segunda-feira, 30 de agosto de 2010

.: A primeira dama :.

Olhares despercebidos, era o que menos fitavam aquela mulher, seus olhos hipnotizantes chamavam-os, era o que eles pensavam. Míseros tolos. A atração nunca fora culpa da cor de sua delicada córnea.

Marie caminhava sobre um salto pela avenida Palace, era rotina. Seu caminhar encantava a todos, um simples toque ao chão lembrava-os uma bailarina, todos paravam para vê-la passar, suas faces sorriam com certa euforia em sua direção, gentilmente os retríbuia com uma simpatia inegualável. Seus cabelos castanhos alinhadamente escovados pairavam à sua cintura com delineados cachos, levemente balançando conforme o vento vinha contra. Sem exageros. Ela tinha um deslumbre que ninguém possuía. Sarcasmo ou não. Seu corpo deliberadamente sempre foi escondido por suas discretas vestes, não expondo suas belas curvas. Definitivamente. Ela não precisava vender seu corpo para ser admirada, sua bondade era branda demais, pura e branca igualmente a neve – ninguém entendia como poderia ser tão doce – isso já bastava para ser excepcionalmente notada. A mulher da boca modeladamente desenhada em forma de um coração invertido nunca fora a mais bonita, mas sempre fora a mais elogiada.


sábado, 28 de agosto de 2010

Angel

Com um leve sopro, suas asas brancas abriram-se cordialmente, assim como as pálpebras de seus olhos. Ele era um anjo. Meu sangue impulsivamente começara a correr entre minhas veias com uma ardência desconhecida, aglomerando-se em meu coração, fazendo-o quase explodir. Sua intensa concentração carregada sobre mim, demonstrava a tensão que guardara por tanto tempo. Sua face prensada num risco e seus punhos cerrados me transmitiam o medo que sentira caso tivesse minha rejeição – ele me amava, mas não podia, anjos não se apaixonam por humanos, só os protegem.


Aqueles olhos suaves estavam gritando para meu corpo se mover, para meus músculos se tencionarem, mas nada fiz. Não conseguiria ter uma reação coerente diante desta revelação, não agora. Uma bola de aço se retorcia dentro do meu estômago, minha garganta estava grossa, construindo dentro de si nós imagináveis de vidro. Mas, continuava imóvel. Não demostrando dor, só perplexidade. Indecifrável por fora. Derramando litros de sangue por dentro.

A sensação de vazio entre nós o fez modelar seu corpo ao meu, abraçando-me com ternura. Ele tremeu. Sombriamente o imaginei longe de mim, não tê-lo mais seria uma insanidade, um risco mortal.

Em um lugar, muito distante de onde encontrava-se, os olhos mais divinos que um dia pude ver, cuidavam-me, enquanto meus lábios tocavam, e meu sorriso se direcionava à um outro alguém.

Submersão

As ondas quebravam-se silenciosamente nas pedras rochosas, acompanhando a mórbida cor que entoava ao alto, o céu demostrava uma tristeza vaga com suas nuvens apagadas, o sol com sua eterna luz, cintilava levemente na pele branca daquela menina, que encontrava-se jogada sobre a areia com a respiração desregular, esfaimada com sua solidão, morta interiormente. Ela minutos atrás perguntava-se porque seu coração ainda batia, desistiu, não obteve respostas. Suas pernas tremiam de pavor, assim como seus grandes olhos azuis arregalavam-se a cada segundo, a pequena queria fugir daquele mundo, mas ainda não havia chegado sua hora.